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Biografia e Obra

Eugénio Tavares (1967-1930)

Eugénio de Paula Tavares nasceu na Ilha Brava, Cabo Verde, a 18 de Outubro de 1867, filho de Eugénia Roiz Nozolini Tavares e de Francisco de Paula Tavares. 



Eugénio foi baptizado na Igreja de S. João Baptista a 5 de Novembro do mesmo ano, pelo cónego vigário Guilherme de Magalhães Menezes, sendo sua madrinha Maria Medina de Vera Cruz.

A família adoptiva
No seguimento do desaparecimento da sua familia, Eugénio é adoptado por José e Eugénia Martins de Vera Cruz.

O Meio Cultural, o Ensino e as habilitações literárias de Eugénio



A Ilha Brava, um meio cultural de grande excepção em todo o Além Mar Português


Em Fevereiro de 1845 o bispo de Cabo Verde advogou a criação de um seminário-liceu, com internato, de 24 alunos sendo 12 destinados à vida eclesiástica. Determinou também que o seminário deveria ser colocado na Brava, no sítio denominado de Stª Barbara e que a sua construção custaria cerca de 3 contos, sendo de 1 conto a despesa anual para sustento dos alunos.
Ao fundo da rua a escola primária onde Eugénio estudou
na então Vila Nova Sintra
Em Novembro de 1847 instala-se a Escola Principal de Cabo Verde na Ilha Brava, por vontade da Rainha que queria ver nomeado um professor hábil, o qual pudesse habilitar rapazes que mais tarde dirigissem outras escolas a abrir. Foi nela colocado o Primeiro-Tenente Victorino João Carlos Dantas Pereira.


Os Mestres Poetas de Eugénio Tavares
A formação cultural do poeta foi influenciada por grandes vultos da cultura caboverdeana da altura, nomeadamente Guilherme Dantas, Augusto Barreto e Maria Luísa de Sena Barcelos.

O Novo Poeta cria grande expectativa na Colónia
Ainda muito cedo, por volta dos 12 anos de idade, Eugénio inicia-se na poesia. Os seus poemas corriam de casa em casa, de mão em mão, ganhando graça e notoriedade na Ilha Brava, num meio onde a poesia era muito cultivada. Entretanto aprendera a tocar a guitarra portuguesa e diz-se que apareceram nessa altura as primeiras composições musicais.



Aos 15 anos de idade, pelas mãos de Luis Medina e Vasconcelos, o primeiro poema é publicado no "Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro". O seu talento foi enaltecido e ficou a ideia que ele devia de deixar a Brava para um meio que lhe permitisse outros voos.


A Badinha
Um Dia Cahira Em Teu Niveo Seio

    Desmaiado Botão, 

Que D'uma Linda Roseira Arrancára 

    Violento Tufão.

As Tuas Caricias Deram-Lhe A Vida;

    E O Anhelito Teu
Foi O Balsamo Que Deu Força, Alento
    Ao Debil Peito Seu!
E A Carminea Bonina Transformou-Se
    Rapidamente Em Flôr,
Que Se Esforça Por Derramar A Jorros
    Reconhecido Odôr!
O Immaculado Anjo Da Caridade,
    Que Do Olympo Desceu,
És Tu! E A Flôr, Que, Meiga E Carinhosa,
    Emballaste, Sou Eu!

Eugenio de Paula Tavares
Eugénio Tavares em São Vicente
O êxito obtido com a publicação do primeiro poema, aconselhava a saída da Brava, para uma melhor formação e Eugénio emprega-se em São Vicente, numa casa comercial, representante dos interesses consulares dos Estados Unidos da América.
Casa comercial Union Bazar, em São Vicente
Eugénio Tavares na Ilha de Santiago

O Poeta no Tarrafal, por vontade própria ou já na trajectória do seu destino, para conhecer o seu povo.



Feito Recebedor da Fazenda Pública no Tarrafal, apareceu-lhe oportunidade para se embrenhar nos costumes e tradição, na alma do povo que se radicara atrás desses montes em defesa e preservação dos seus hábitos mais sagrados.


Eugénio Tavares de regresso à Brava

De regresso à Brava em 1890, Eugénio está um conhecedor da realidade de Cabo Verde. 



Feito Recebedor da Fazenda na Brava, casa-se com D. Guiomar Leça, senhora de muitas virtudes, e companheira fiel para toda a vida. 


A Vingança dos Medíocres 

A tentativa de apear do seu pedestal o Delfim de Cabo Verde

Entre 1850 e 1900 formou-se uma elite cultural na Ilha Brava, com aderentes em todas as Ilhas, sobretudo na Cidade da Praia (Ilha de Santiago). Apontaram a aurora nativista em Cabo Verde, que passando pelos Claridosos redundaria mais tarde no Nacionalismo conducente á Nação Caboverdiana.


A Fuga para o Exílio
Já a noite tinha chegado à Baía da Furna, quando alguns pescadores deram pela presença de um navio sobre vela. Desembarcados em duas lanchas um contingente de tropas com cerca de uma vintena de homens perfilou-se e encaminhou-se para casa de Eugénio Tavares. Sitiada a casa de Eugénio, constataram a sua ausência. O poeta encontrava-se em casa dos seus compadres em Tomé Barrás, numa festa de aniversário. Aí se dirigiram e tentaram aprisionar Eugénio Tavares. Este num rasgo de sapiência trajou-se de mulher

Imagem de navio de guerra que ancorou
 na Baía da Furna para
 prender Eugénio, a mando do Governo Português


Ao centro, o lugre "B.A. Brayton" que largou do Porto da Furna,
 embarcou o Poeta na Baía da Fajã d'Água
 e o conduziu aos Estados Unidos

Eugénio Tavares, o primeiro jornalista da diáspora?
Chegado ao país da liberdade, o poeta afigura-se logo preparado para os grandes vôos no campo do jornalismo. Funda o Jornal Alvorada e estende a colaboração com jornais em outros países, como o Brasil,
"A Alvorada" - Primeira página  do 2º número da publicação 

O triste regresso do exílio Hora di Bai, Hora di dor, má si ca bado, ca ta birado



O poeta que cantara a Hora di Bai envolvendo sempre a hora do regresso cumprira o destino de ir como exilado mas cumprindo também o regresso, esse regresso era um triste regresso.
Entre 1900 e 1910 em condições caucionadas pelo seu pai, Eugénio regressou várias vezes na clandestinidade, à ilha Brava. De uma vez encontrara os seus sobrinhos (filhos adoptivos), José e Luísa, já bem crescidos.

Um feliz regresso, depois de alguns tristes regressos - 1910
Implantada a República em Portugal, a 5 de Outubro de 1910, Eugénio regressa definitivamente a Cabo Verde, após diversos regressos clandestinos, apelidados pelo próprio poeta de "tristes regressos". Caucionado pela fiança dos bens de seu pai, Dr. José da Vera Cruz, e de alguns comerciantes locais, feito republicano convicto, o poeta regressa para festejar a República perante os olhares de admiração e de carinho do povo de Cabo Verde.

O regresso definitivo à Ilha Brava - 1922
A Fundação da Troupe Musical Bravense
Julgado e absolvido, Eugénio regressa à Ilha Brava definitivamente em 1922. Vive no meio do seu povo e no aconchego da família. Escreve para ganhar a vida, exerce o professorado, cultiva as flores do seu jardim. Mas é sobretudo na composição da Morna que o Poeta mais se ocupa. Segundo Pedro Cardoso ninguém viveu tanto a Brava como ele.

O Poeta está preocupado com a juventude e a falta de escolas. Com Hermano de Pina e um grupo de amigos funda a Escola Governador Guedes Vaz e cria uma aula de ginástica com muitos aderentes.

Ao mesmo tempo, funda a Troupe Musical Bravense, com cerca de trinta elementos, músicos esses que sem uma pauta convencional registariam de ouvido as melodias que chegaram aos nossos dias. Ficava assim garantida a difusão das mornas através dos tempos. Eles levariam aos quatro cantos do mundo as melodias que de outra forma se iriam perder. Cada instrumento era considerado sagrado e tinha o nome de um santo, como se pode verificar pela fotografia. Os instrumentos eram baptizados em dia de grande festa e era atribuída uma madrinha a cada um. Trinta jovens músicos, trinta madrinhas. o maestro era Eugénio e a sala a Ilha das Mornas e das Flores.

Visita de desagravo pelo Governador Guedes Vaz a Eugénio Tavares
Em 1927 o Governador Guedes Vaz vai à Brava numa visita de cortesia e de desagravo a Eugénio Tavares. O Governo achou chegada a hora de apresentar ao Poeta um desagravo da Província, por tanto sofrimento causado em períodos de governação anteriores.

Vinha convidá-lo a viajar até à Ilha de São Vicente, para um encontro de Poetas e uma homenagem nacional a Eugénio, José Lopes, Pedro Monteiro Cardoso e Januário Leite.

O Poeta e Pensador no seu Isolamento da Praia de Aguada

Na última década da sua vida, após a morte de seu pai adoptivo, Eugénio herdou a propriedade de Aguada e vai ali passar grande parte dos seus dias. Escreve Luís Romano, o sobejamente conhecido escritor Cabo- Verdiano:
"Dolorosamente ferido, isola-se como um eremita num dos locais mais sombrios da Ilha Brava: Aguada. Aí reside esmagado entre a pressão de duas montanhas desoladas, tendo como visão livre o panorama do mar, delimitado ao longe pelo vértice dessas rochas verdadeiramente tenebrosas. Aí viveu escrevendo mornas e falando com o mar nos seus solilóquios de desamparo.

Cabo Verde de luto - Morreu Eugénio Tavares

Decorria o dia 1 Junho de 1930 e pelas onze horas da manhã Eugenio Tavares sentado a uma cadeira de baloiço na sua casa da Vila Nova Sintra recebia a visita do seu amigo Pedro Castro e seu sobrinho José Medina e Vasconcelos. Os amigos vinham a um habitual cavaqueio narrar ao poeta um facto insólito e ridículo que decorria ao nível da governação da Colónia. Ouvida a história com muito interesse, os três remataram a conversa com uma estrondosa gargalhada, quando Eugénio Tavares deixou-se inclinar, fulminado por uma angina de peito.

Pesquisa: Site da Fundação Eugénio Tavares

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