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O Miradouro da Cruz Grande, local de inspiração para o Mar Eterno.

Quem subir ao Monte das Fontainhas, o Pico mais alto da Ilha Brava, consegue ver esse Rochedo na sua totalidade e contemplar o mar imenso que banha e envolve a Ilha. Nos dias mais claros e de boa visibilidade o espectáculo é impressionante.
Mas, para quem não consegue lá chegar numa caminhada bem difícil, basta visitar um dos muitos pontos mirantes para se consolar com esse espectáculo. São muitos os miradouros públicos, entre eles o Miradouro do Monte, o do Cutelo das Mentiras e o da Cruz Grande, estes nas proximidades da Vila Nova Sintra e os mais bonitos e consagrados pelo Povo da Brava.
O Miradouro da Cruz Grande é sem dúvida o mais simbólico por ser uma porta de entrada para a Cidade de Nova Sintra e interior da Ilha e uma porta de saída  para o porto da Furna.
O Miradouro é um palco e a enorme plateia são os vales profundos que acabam na Baia da Furna. A Furna é uma pequena concha de um mar azul sem igual, teatro de tantas partidas bem choradas e de tantas chegadas alegres e de abraços apertados. Avista-se por terra, numa distância de 5 quilómetros, uma estrada com noventa e nove curvas ou um caminho pedonal bem mais curto passando por Santa Bárbara, aldeia romântica e de casinhas brancas dominadas pela capelinha de Santa Bárbara. A Ilha do Fogo agiganta-se com seu Vulcão bem à nossa frente, podendo-se identificar a Cidade de São Filipe a uns dezoito quilómetros de mar. O Miradouro da Cruz Grande é na realidade uma sala de visita de onde uns partem e outros chegam. Aí se esperou, desde tempos imemoráveis, os marinheiros e emigrantes de toda a parte do mundo. Aí o Povo se reunia em orações de Cantaluz quando, desesperados, não se vislumbravam as velas dos seus navios que vinham das Américas com algum atraso. Aí o Povo apupava o “sello” quando as velas brancas despontavam no horizonte, às vezes nem sempre de navios mais esperados. Ainda hoje é um ponto de encontro e de espairecer para toda a gente e onde se espreitam os barcos que chegam e que partem. Pares românticos são frequentes visitantes desse miradouro.
Reza a lenda que Eugénio Tavares durante uns tempos esperou Kate no Miradouro da Cruz Grande pela manhãzinha, e aí trocavam afectos amorosos e entravam na Vila Nova Sintra em dias de grande felicidade. O tempo foi de promessas de casamento sem consentimento do pai. Aí um dia o poeta pela manhã não viu fundeado na Baia da Furna o iate Fabulous que partira traiçoeiramente para sempre e pela calada da noite. No Miradouro da Cruz Grande, Eugénio, perante a Furna vazia viu os seus sonhos e a sua maior paixão naufragar num mar de desespero e de mágoa. Percebeu que não bastavam os seus dotes para chegar a Kate e que faltava ter dotes de fortuna para cativar o seu pai. Na pujança dos dezoito anos ainda hoje se diz ter sido a sua primeira paixão e o drama que inspirou um dos seus mais lindos versos – O Mar Eterno.
Segundo os seus biógrafos este caso impressionou profundamente a alma romântica dos cabo-verdianos, povo de sensibilidade bastante para compreender os dramas de amor. As vozes da ternura e do sonho da população acarinharam o poeta nessa prisão liquida que o separava do mundo. Surgiu assim a Canção ao Mar, o Mar Eterno para o povo, cuja música trazia um acento de inultrapassável nostalgia. Estavam criadas as condições para os grandes voos líricos do poeta. Seguem as suas melhores composições. O amor, a mulher, a saudade são temas que o vão imortalizar. Estava vencida a lei da morte por Eugénio Tavares. Este é o testemunho de José Osório de Oliveira e Augusto Casimiro em conferências literárias, proferidas em Lisboa em 1944, catorze anos após a sua morte, bem como dos familiares e bravenses que viveram nessa época.

Fonte: eugeniotavares.org

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