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Aquecimento global: Cidade Velha vai desaparecer no futuro

Ainda não há caso para alarme, mas se a temperatura do planeta continuar a subir em média 3 graus centígrados, a cidade da Ribeira Grande de Santiago ficará totalmente submersa por causa do aumento do nível da água do mar, alerta um estudo da Environmental Research Letters. Tal como a Cidade Velha, mais 135 cidades classificadas como Património Histórico da Humanidade desaparecerão do mapa. Este aviso surge, curiosamente, numa altura em que Cabo Verde atingiu o segundo maior máximo na emissão de dióxido de carbono, tendo contribuído para o Hemisfério Norte ultrapassar a barreira de concentração de CO2 na atmosfera.
Pelo menos 136 lugares classificados como Património Mundial da Humanidade da UNESCO vão ser afectados no futuro se a temperatura global continuar a subir a uma média de três graus celsius, estima o estudo da Environmental Research Letters, a que A NAÇÃO teve acesso.

A publicação científica do Institute of Physics aponta a cidade da Ribeira Grande de Santiago, assim como a Estátua da Liberdade, o Independence Hall, a Torre de Londres e casa da Ópera de Sydney como exemplos de locais históricos que poderão ser gravemente afectados pela subida do nível do mar nos próximos dois mil anos.
A revista do IOP, Publishing Environmental Research Letters, calculou o aumento da temperatura em 720 locais que integram a lista da UNESCO e que seriam atingidos se a actual tendência de aquecimento global continuar e as temperaturas se elevarem a três graus celsius acima dos níveis verificados no período pré-industrial. E é assim que a Cidade Velha, património da humanidade desde 2009, está incluída no “study case” daquela publicação.
Os investigadores consideram que este fenómeno – aumento do nível do mar – é "um cenário possível e não particularmente extremo". Os cientistas prevêem que a persistente elevação do nível do mar poderá atingir mais rapidamente os centros das cidades de Bruges, na Bélgica, Nápoles e Veneza, na Itália, Riga, a capital da Letónia, São Petersburgo (Rússia), Abadia de Westminster, considerada a igreja mais importante de Londres, e a ilha Robben, na África do Sul, onde Nelson Mandela esteve encarcerado durante 27 anos.
No caso da Ribeira Grande de Santiago – que comemora no próximo dia 26 deste mês cinco anos da sua classificação pela Unesco a Património Histórico da Humanidade, devido ao seu extraordinário valor histórico universal – , o aumento do nível da água do mar cobrirá sobretudo a zona baixa da cidade, onde se encontram, por exemplo, o histórico Pelourinho, algumas das casas mais antigas e a Câmara Municipal.
É certo que o impacto directo das alterações climáticas só serão sentidas daqui a 2 mil anos, mas a Environmental Research alerta para a necessidade de se começar desde já a tomar as devidas precauções quanto à poluição e outros factores que levam ao sobreaquecimento do planeta. Até porque, ressalva o estudo, um aumento da temperatura mundial ainda que inferior a 3 graus centígrados fará subir meio metro o nível da água do mar em poucos anos. Se for superior a Ribeira Grande de Santiago e outras 135 sítios Património Histórico vão desaparecer em 2 mil anos.
O horizonte temporal parece longínquo, mas o problema é sério como escreveu o principal autor do estudo, Ben Marzeion, da Universidade de Innsbruck: "Consideramos dois mil anos um tempo curto, mas o suficiente para ser relevante para o património cultural que prezamos. Os níveis do mar estão a responder ao aquecimento global lenta mas firmemente, porque os principais processos envolvidos - a absorção de calor dos oceanos e derretimento do gelo continental -, depois de longo tempo de aquecimento contínuo da atmosfera, parou".
Já o co-autor da pesquisa, Anders Levermann, do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, disse: "Depois de dois mil anos, os oceanos terão atingido um novo estado de equilíbrio e podemos calcular a perda de gelo da Gronelândia e da Antártida a partir de modelos físicos”.
Os pesquisadores calcularam também a percentagem de terra dos países que estão localizados abaixo do nível do mar e apuraram que pelo menos sete países - incluindo as Maldivas, Bahamas e Ilhas Caimão - poderão perder 50% das suas terras, enquanto outros 35 países correm o risco de perder 10% das suas terras devido ao aumento de níveis do mar.
Segundo a pesquisa, 7% da população mundial actual vive em territórios que estão abaixo do nível do mar e que, fazendo a distribuição da população afectada de forma desigual, constata-se que mais de 60% da população afectada seria a que reside na China, Índia, Bangladesh, Vietname e Indonésia.
"Os nossos resultados mostram que se houver um aumento de temperatura de 3° C durante os próximos dois mil anos, o que parece provável de ser alcançado e é geralmente considerado como não sendo um cenário extremo, os impactos sobre o património global seriam graves", concluiu Ben Marzeion.

De resto, os principais efeitos negativos das alterações climáticas estão a piorar a cada dia, como mostram também os relatórios recentes do Painel da ONU Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e da Casa Branca. Estes documentos revelam que as emissões de gases de efeito estufa que impulsionam o aquecimento "excederam substancialmente as concentrações mais altas registradas em núcleos de gelo durante os últimos 800 mil anos". Os níveis de dióxido de carbono atmosférico, que vêm principalmente da queima de combustíveis fósseis, subiram 40% desde os tempos pré-industriais. Nesse capítulo, Cabo Verde atingiu o segundo maior máximo.

A Nação

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