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Todavia urge alavancar aquilo que constitui nossa história cultural. Importa aqui realçar para o que considero ser muito importante para a perpetuação e desenvolvimento do nosso folclore herdado desses ilustres filhos da Brava para a posteridade. Aqui ressalta-se a possibilidade de continuarmos a obra que com tanta entrega eles nos legaram. As novas gerações têm o dever de novas criações, não descurando as grandes obras dos nossos antepassados, mas nos inspirando para mais criações artísticas. Aliás, a transformação por que passa o mundo requer de nós todos que a acompanhemos com novas criações e inovações. Ir mais longe que vai além do simples viver ou reviver o nosso passado. Mas criar e recriar a nossa cultura com intervenções criativas e inovadoras.
O poder público tem suas responsabilidades, mas deve haver iniciativas que partem da própria população. E porque aproxima-se da época das festividades de São João e do Município da Brava, tal é o envolvimento com atuações de artistas, manifestações de coladeiras nas suas cantigas ao ritmo do tambor. As coladeiras e tamboreiros se juntam. O "mastro" é erguido no Cutelo e as fogueiras são acesas para as pessoas se saltarem. É a época alta para as movimentações de pessoas na Brava. Todos os caminhos vão dão à Brava, nesta altura do ano.
Contudo a cultura bravense promovida na própria ilha é evidenciada com as festas juninas. Depois disso há um período de declínio em termos promocionais, exceptuando algumas ações esporádicas ao longo do ano, porém, muito desgarradas e sem conexão com aquilo que é o real propósito de promoção não só da arte, mas, sobretudo dos artistas e criadores. Há que combinar talentos, vontades, pesquisas e criações, determinação, união e espírito de trabalho de equipa para criações ousadas e bem elaboradas.
Vê-se nitidamente um grande boom às criações e promoção culturais a nivel nacional, desde que se criou o Ministério da Cultura e seu Banco da Cultura para o fomento das ditas economias criativas. Hoje não se pode olhar para a cultura como mero exercício de lazer e entretenimento. Ela é uma força criativa num mundo em constante transformação e uma das atividades gerações de roteiros turísticos, como uma das fortes componentes no plano económico, de crescimento e de desenvolvimento.
Uma ilha como a nossa que não aproveita das suas potencialidades culturais para atrair turistas, gerar riquezas, fomentar empregos ou auto-empregos, atrair parceiros estratégicos como o Governo e entidades públicas e privadas ou outros organismos não governamentais, particularmente num momento em que toda a atenção está virada para a Brava eleita Capital da cultura, não está a alavancar o seu desenvolvimento que passa pela oferta daquilo que ela tem de melhor que é a sua cultura.
Se nos preocupa a necessidade de promovermos cada vez mais a nossa cultura, como valores conquistados e transmitidos de geração em geração, não é menos preocupante que ela pode se perigar num contexto social com muitas fragilidades, com falta grave de iniciativas. Daí um enfoque aos aspectos sócioculturais, socioeducativos e uma simbiose social e cultural capaz de elas caminharem sem gerar choques desnecessários que advém de vários factores. Ou seja, cultura no seu sentido lato estende-se á area do conhecimento, dos valores e da ética que devidamente trabalhados podem redundar em elevada dose de projeção e elevação dos valores de um povo fustigado por uma série de conflitos o que pressupõe que o desenvolvimento de um povo caminhe quase que na mesma proporção do desenvolvimento intelectual, da criatividade, da imaginação, da salvaguarda dos valores e do bem-comum, do respeito pelo patrimómio material e imaterial, etc. Neste particular é necessário que se dinamize a criação de grupos culturais com a clara missão de promoção dos valores culturais com ações objetivas junto dos várias camadas sociais.
Como forma de sustentar esta espécie de tese e mostrar que não se trata de mera teoria, desde Outubro último que o Ministério da Cultura anunciou que tem disponível cerca de 217 mil contos para financiar projetos culturais, numa ocasião em que Brava é eleita Capital da cultura e Cidade de Nova Sintra a património nacional. Mas, como atrair maior fatia possível desse financiamento para Brava, justamente neste contexto de Capital da Cultura e património nacional, e que tem prazo até 2015 e que, ao mesmo tempo, o próprio Ministério ter anunciado que na altura já tinham entrado cerca de 200 projetos? Por outras palavras, como aproveitar e desenvolver o senso de oportunidade e atrair algum financiamento para Brava?
Em todas as ilhas existe um balcão da cultura onde se pode apresentar os projetos com acesso ao Fundo Autónomo de Apoio à Cultura (FAAC) do MInistério da Cultura. Na Brava o balcão fica no Paços do Concelho mas ainda falta-nos desenvolver uma cultura de elaboração de projetos e que obedeçam a alguns critérios exigidos pelo financiador, como a credibilidade, fomento ao emprego e gestão de rendas, acesso à cultura, integração social e cultural, criação e inovação, sustentabilidade financeira e credibilidade técnica e financeira.
Para que haja igualdade de oportunidades, não podemos deixar de encaminhar projetos seja no domínio da música, artesanato, eventos culturais, espaço cultural, literatura, artes plásticas, teatro e dança, multimédia, comunicação, entre outros.
Há várias áreas culturais que podem ser alvo de projectos credíveis e com franca possibilidade de financiamento da parte do Banco da Cultura: organização de eventos musicais, como concursos de vozes ou instrumentais, intercâmbios culturais, confeção de pratos típicos, produção e criação de espaços de artesanato, por exemplo, as obras das mulheres da Brava. Para além de produções audio-visuais sobre a temática cultural, criação de escolas de música e de fabrico de instrumentos musicais, entre outros. Pequenos projetos que não ultrapassam os 1.500 contos e que podem gerar economias através da arte.
Uma coisa é certa:
- É exigido envio de projetos sem os quais não poderemos ter financiamento. É mediante um projeto que o proponente mostra o que pretende e convencer o potencial financiador, no caso o Banco da Cultura.
- Entrar em contato com o balcão do BC para mais informações e necessárias orientações quanto à elaboração do projeto;
- O projeto tem que obedecer aos critérios estabelecidos pelo BC, sob pena de não ser aprovado.
- Escolher atividade que melhor adeque à sua linha de atuação e da qual entende bem.
Elaborar projetos é o melhor caminho para uma realização cultural que depende de financiamentos.
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