Imagine dois estudantes se encontram em Lisboa e num diálogo procura-se saber sobre as ilhas de Cabo Verde. Um dos estudantes se chama Vicente. Provavelmente os dois conhecem Cabo Verde, mas inventam uma forma interessante e inovadora de representar todas as ilhas:
- Antão Vicente, como vão Nicolau e Luzia?
- Eles vão bem. Casaram-se em Maio.
- E onde é que vivem?
- Vivem em Santiago.
- E como é aquilo lá?
- Tem bom Sal e Boavista.
- Mas, como é que se dão como casal?
- Oh! Ele é Fogo e ela é Brava.
Manuel Veiga, Licenciado em Linguística Geral, descreve no seu livro «Diário das Ilhas»as imagens que o «escriba» assistiu das «dez encantadoras mocinhas», referindo-se as dez ilhas de Cabo Verde:
"As imagens provinham em borbotões. Ligeiro como era o nosso escriba, não se cansa de registar, para si a para a posteridade, os sinais que captava no seu écran orgânico como no etéreo.
Atónito, assistiu à estrondosa explosão vulcânica que, coerente consigo própria, deu à luz, de uma só vez, a dez encantadoras mocinhas, todas robustas e idênticas a si próprias. Por serem parecidas uams com as outras, tiveram um único nome (baías) e dez sobrenomes (Santiago, Fogo, Brava, Maio, Boavista, Sal, S. Nicolau, Santa Luzia, S. Vicente, Santo Antão). Todas bonitas, mas de uma beleza natural e não postiça.
Na primeira, encontra-se o majestoso Pico de António, com as suas ribeiras, cutelos e achadas (...) a baía do vulcão altaneiro, com a sua célebre Chã das Caldeiras e o seu gostoso café, por todos apreciado; a das «mornas» de Eugénio Tavares que moldaram a nossa alma e enformaram a nossa cultura; a de gentes simples como aspombas, que fornece o «sal» para tempero dos nossos alimentos; a das «dunas» e da virginal Praia de Santa Maria, em cujo ventre acolhe,com afecto de uma mãe, todos os que chegam e todos os que partem; a do «seminário» (...) que nos abriu os olhos numa época em que os cegos abundavam; a que não é de ninguém, porque é a «reserva» de todos e dela um dia todos hão-de beneficiar da sua riqueza escondida e ainda por explorar; a do «porto grande» que nos ligou ao mundo, que levou ao mundo o nosso mundo e a este trouxe o que dos outros era,para um diáogo fecundo que se pretende harmonioso e respeitador; a das fecundas ribeiras e fragosas montanhas que nem aos forasteiros deixa indiferentes, tanto com a sua aguardente (l´eau de vie») como ainda, e sobretudo, com o seu apego à «terra-mãe» mesmo quando esta se encontra escondida lá no cimo das saliências mais altas e escarpadas.
O escriba, perante este cenário das suas baías, deu-se conta de uma alegria profunda a inundar o seu ser, e sentiu-se impelido, não apenas a cantá-las, como tantos outros, mas sobretudo a amá-las."
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