Na direção Sul, a cinco quilómetros, aproximadamente, de Nova Sintra, fica
situado o sítio da Aguada, famoso, não precisamente, pela excelente qualidade
de água mineral que possuia, mas sobretudo, pela relação que teve com o poeta
Eugénio Tavares. É de difícil acesso, devido não haver uma estrada em
condições, que conduza ao local. Para lá chegar, tem de se ir a pé ou, de carro
até o sítio do Mato Grande, e depois, também a pé, pelas encostas abaixo,
passando por Garça e Baleia. É uma viagem bastante longa e penosa. Fica junto
ao mar, o que lhe porporciona boas condições para a criação duma ótima estância
turística. Era para lá, que Nhó Eugénio se retirava quando, querendo fugir do
barulho da vila, para se concentrar e se inspirar, para escrever as suas
maravilhosas composições poéticas na
casa que aí possuia. Nessa casa também, hospedou-se, por algum tempo, o poeta e
escritor português, Augusto Casimiro. Terá sido ali que escreveu a belissima
morna “Praia d’Aguada”.
Existiu nas proximidades da casa de Nhó Eugénio, como anteriormente
referimos, uma fonte da qual, segundo parece, emanava água mineral e bicarbonatada,
possuindo características semelhantes a do Vinagre. A revista “O Missionario
Católico” fala-nos das cerimónias da benção dessa fonte que estave prestes a
secar. O acontecimento foi seguido por uma grande multidão que acompanhou o
sacerdote que celebrou as ceremónias. Toda a comitiva foi recebida por Eugénio
e alguns dos seus amigos que alí se encontravam. O artigo salienta que,
antes das cerimónias, Eugénio discursou
e fez a sua profissão de fé católica, pedindo a Deus para que faça sempre
jorrar a água, tão necessária, para a vida daquela região. Depois da benção da
fonte, Eugénio ofereceu um almoço a toda
a multidão, que veio assistir às cerimónias. Diz ainda o articulista que, nas
Vésperas, os pescadores da zona tinham apanhado muito peixe e, ofereceram-no,
generosamente, para a festa. Dessa fonte hoje não jorra sequer uma gota do
precioso líquido. Isso devido, talvez, aos sismos, muito frequentes na ilha,
abrindo fendas no subsolo, e a fonte, pouco a pouco, foi secando. Hoje,
practicamente, só existem vestígios dum tanque vazio. Quanto a casa ainda se
vêem umas paredes levantadas, esperando que alguém se lembre de as transformar
num local digno, que faça recordar o seu proprietário. Aguada, é sem dúvida, um
património histórico, um santuário sagrado, que deve ser recuperado, pois, faz
parte da nossa história.
Recordando o que, na altura, foi uma estância paradisíaca, transcrevemos
aqui duas mornas que a imortalizaram:
MORNA DE AGUADA
S’é pa’n vivê na és mal
Di ca tem
Quem qui crê’n
Ma ‘n crê morrê sem luz
Na nha cruz,
Na és dor
Di dâ nha bida
N’és martirio di amor!
Amá, s’é pa’n morrê,
Pa ‘n dixâ,
Ai, quem qui’n crê,
Pa oto djente bem crê!,
Ma‘n crê vivê n’és martírio!
S’é pa és tristeza di crê
Sem sperança,
Sem fé,
Ma’n crê destino di bai,
Di ‘n morrê,
Pa ‘n squicê
Num momento di amor,
Um bida intero di dor!.
- Eugénio Tavares
PRAIA D’AGUADA
‘N bem di Praia d’Aguada
Azul di mar e di céu
Trazê’n nha alma consolado
‘N bem di pé di nha cretcheu.
Mar é mudjer
‘N crê’l tanto cumâ nha cretcheu
‘N nadâ ‘n margudjâ
‘N dâ’l bejo tcheu
Mesmo na boca di mar.
Dibaxo di mar azul
‘N odjâ rotcha ta sangrâ
‘N margudjâ ‘n trazê’l na mom
Um coraçam di coral.
Criolas ca nhós tem pena
És coraçam é um flor
Um coraçam di serena
Morto pobrinho di amor.
- Augusto Casimiro
Por: Benvindo Leitão
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