“Coração de Lava” foi lançado esta terça-feira, 09, na Associação Cabo-verdiana, com elevada presença de público, num ambiente de emoção e solidariedade para com o drama que afecta as gentes da Chã das Caldeiras, ambiente paisagístico e humano que serviram de mote para o livro de poemas e fotografias de José Luiz Tavares e Duarte Belo.
Para o poeta que cita Maria Zambrano “a infância é a mãe do poeta” e o facto de, desde criança, ter sempre, para além da fímbria do mar, o vulcão do Fogo na linha do horizonte, das praias do seu Tarrafal natal, foi influência incontornável para o projecto que se desembocou na edição que agora chega ao grande público.
Sobre o livro o poeta, apesar de ser “suspeito devia à autoria” é de “uma grande valia” porquanto a “Chã das caldeiras, a partir de agora “provavelmente vai viver muito daquilo que é a sua memoria e o “Coração de Lava” será o seu rosto plangente.
Alberto Carvalho apresentou o livro qualificando-o de “excelente...igual a nenhum outro que tenha sido produzido em Cabo Verde, com esta configuração e esta riqueza retórica. É um acontecimento, um marco na escrita cabo-verdiana”
A influência de João Manuel Varela na poesia de “Coração de Lava” para o apresentador “não é nenhuma desonra. Antes pelo contrario. A grandeza de um cientista é pegar na ciência tal como ela se encontra num dado momento e fazer algo de novo”. E José Luiz Tavares fá-lo com mestria, embora tenha optado em não partir “da realidade humana, em abstracto, para o mundo das grandes ideias, das grandes construções filosóficas” como fez Varela, mas partindo “da realidade concreta, das lavas e outros elementos “para as grandes elucubrações poéticas em volta da transfiguração metafórica.”
Presentes no acto estiveram a embaixadora de Cabo Verde em Portugal, Madalena Neves que dedicou um poema à ilha do Fogo e que foi lido por Luís Lobo, o Presidente da Câmara de Mosteiros, Fernandinho Teixeira, em Lisboa, por questões de saúde.
De ressaltar o encaminhamento de 50% do produto das vendas para os desalojados da Chã das Caldeiras.
Os momentos musicais estiveram a cargo de Tchicau Andrade, Mário Rui, José António, Armando Tito e Adérito Pires.
Versos iniciais do primeiro poema após os Prelúdios “Vês a casa na manhã do fogo./O susto paralelo incitado pelos sinais/da catástrofe. Bangaeira, boca fonte/e portela eram nomes acesos nas gargantas/como vibráteis pedras queimando a planta/dos pés do primeiro peregrino...”
Premonitório ou talvez não para quem vivia à beira de um vulcão ainda vivo.
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