Pesquisa/encontre neste blog...

O nosso homem na Basileia

Hans–Ulrich Stauffer é cônsul honorário de Cabo Verde na Basileia há um bom par de anos. Além das funções típicas de um cônsul-honorário este cidadão suíço resolveu apostar na cultura para mostrar aos seus compatriotas os mistérios e encantos de Cabo Verde. Um dos resultados disso é o livro “Reise auf die Kapverden”.
Amílcar Cabral, Baltasar Lopes da Silva e Germano Almeida são alguns dos escritores cabo-verdianos com textos traduzidos para a língua alemã no livro “Reise auf die Kapverden”, que em português significa “Viagem a Cabo Verde”. Um projecto de Hans–Ulrich Stauffer, cônsul honorário de Cabo Verde na Suíça que se apaixonou pelos escritos cabo-verdianos desde os seus tempos de estudante.
Stauffer é cônsul de Cabo Verde na Basileia, Suíça, há 24 anos, mas começou a relacionar-se com a cultura e a história deste arquipélago muito antes. Segundo contou ao A NAÇÃO, o primeiro texto a ser traduzido por ele para a língua alemã foi de Amílcar Cabral, depois do seu assassinato em 1973. “Isso ainda quando eu era estudante”, afirma Stauffer.

Depois disso, Stauffer foi trabalhar para a editora Casa da Publicação, onde é presidente. Um lugar mais propício a ter mais e melhor contacto com textos de autores africanos, neste caso, cabo-verdianos. “Havia livros de escritores latinos e africanos, mas nenhum de cabo-verdianos”, recorda.
O contacto com a comunidade cabo-verdiana na Basileia fez crescer em Hans–Ulrich Stauffer, ainda mais o gosto, pela história e cultura deste arquipélago. “Entre 1970 e 1980 comecei a ter contacto com a música de Cabo Verde graças aos cabo-verdianos que moram na Basileia”, relata.
Depois desses primeiros contactos, o nosso entrevistado teve a oportunidade de pisar Cabo Verde pela primeira vez em 1981, “num voo Suíça – Moscovo – Sal – Santiago”, conta.  Na altura, quando esteve em Santiago, no Tarrafal, calhou ouvir os Bulimundo. “Foi uma experiência incrível que me deu muita abertura naquilo que fui aprendendo”.
De volta ao seu país, mais tarde, Stauffer diz que encontrou um livro de Germano Almeida traduzido na língua alemã. “Depois dessa descoberta comecei a procurar livros de cabo-verdianos nas bibliotecas”, informa.
Livros traduzidos
Hoje, através da editora de que faz parte, conseguiu publicar uma antologia de escritores cabo-verdianos totalmente na língua alemã. Para se ter uma ideia, nesse volume, há um texto de Amílcar Cabral “Literatura cabo-verdiana e a Identidade Nacional”,  outros de Germano Almeida, Manuel Lopes, Mário da Silva Matos, Baltasar Lopes da Silva, Pedro Duarte, João Lopes Filho, Gabriel Mariano, Luís Romano, Teixeira de Sousa, até de Charles Darwin e  Maria Isabel Barreno.
Para além destes, fazem ainda parte dessa compilação textos de três alemães que escreveram sobre Cabo Verde, casos de Samuel Brunner com “Experiências de um pesquisador nas ilhas de Cabo Verde em 1838”, Immanuel Friedlander, “Uma viagem de aventura no arquipélago de Cabo Verde há cem anos” e ainda Jurgen Lang com “No intestino da história - Cidade Velha, um passado negro”.
São contos, estórias e apontamentos de viagem ou da História que fazem com que se conheça um pouco mais Cabo Verde, a sua vivência, as suas gentes, as suas lutas.
O grupo editorial para a qual Stauffer trabalha quer isso mesmo, levar um pouco da história do arquipélago cabo-verdiano aos falantes da língua alemã que convivem com os cabo-verdianos na Europa. “Vale fazer estas traduções para que as pessoas que procuram Cabo Verde como destino turístico, ou para outras actividades, possam, conhecer um pouco mais a realidade que pretendem conhecer”, conta Stauffer.
Comunidade integrada
De acordo com Stauffer, residem na Suíça cerca de 2500 cabo-verdianos. “Os emigrantes cabo-verdianos estão muito bem integrados na Basileia. Muitos já possuem a dupla nacionalidade, existem alguns problemas, mas não de grandes registos”, revela.
É a ilha da Boa Vista, contudo, que tem mais pessoas na Basileia, seguida de São Vicente, Santo Antão e por último Santiago, como nos diz o cônsul. Por causa desse laço, há projectos que se quer implementar na ilha das dunas. “Queremos comprar materiais de hospital para enviar num valor de 200 mil euros”, diz o nosso entrevistado.
Stauffer já visitou Cabo Verde cerca de 10 vezes e afirma que toda a vez que aqui chega, como agora acontece, encontra o país melhor. “Aqui é diferente de outros países da África que é fustigada com estagnação e corrupção”, salienta. “A evolução é visível à vista desarmada”.
Outros projectos
Um outro projecto de Hans–Ulrich Stauffer tem também a ver com a comunidade boavistense na Suíça. “A história dessas pessoas é muito rica, mas, infelizmente, ninguém escreve ou regista”, lamenta. E para que essa história não se perca, Stauffer pretende fazer uma recolha de imagens (fotografias) e estórias dos mais velhos (80 e 90 anos), que “certamente têm muito o que contar. Saíram de Cabo Verde ainda muito cedo e devem conhecer muitas histórias”.
Segundo Stauffer, esse seria um projecto “Boa Vista de outros tempos”. “Há famílias com documentos preciosos mas que não estão guardados da melhor forma”, conta o cônsul honorário, um claro apaixonado por Cabo Verde que não quer que a história destas ilhas se perca no tempo e dá a entender que, se depender dele, os utentes da língua alemã conhecerão a história, os contos e os escritores cabo-verdianos muito bem, através das compilações traduzidas. “Afinal, a cultura é um bom meio de os povos se conhecerem”, finaliza na véspera de regressar à Suíça, depois de uma estada de vários dias por Cabo Verde.

A Nação

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...