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MORNA, EXPRESSÃO MÁXIMA DA SENSIBILIDADE CABOVERDIANA


  expressão musical é uma das manifestações culturais que mais identifica um povo. Sendo a morna a manifestação cultural que mais nos identifica achamos por bem dedicar alguns seguementos falando sobre a sua origem, o seu desenvolvimento e a sua riqueza poética e musical.
Há um consenso generalizado de que a morna teve a sua origem local, mais concretamente na ilha da Boavista.  Assim nos diz Eugénio Tavares no Prefácio do livro “Mornas,  Cantigas Crioula”:
“A morna é originária da ilha de Boavista. Passou, depois às outras ilhas, adaptando-se, e tomando a feição psíquica do povo de cada ilha.”

Existem no entanto opiniões que defendem  a origem estrangeira ou influências estrangeiras na origem da morna. Temos, por exemplo, Gilberto Freyre que defende a morna ter sido introduzida pelos marinheiros franceses da Martinica por ocasião do tráfico de escravos.  Apresenta como prova a semelhança da morna com as canções nostálgicas dos franceses daquela ilha, conhecidas por  “Mornes”.  Esta teoria foi também seguida por  Archiball Lyall.
José Lopes no seu livro “Jardim das Hespérides” fala-nos da origem da palavra  “morna”. Porém não nos diz nada quanto a origem desta canção. Lemos no livro de Pedro Cardoso “Folclore Caboverdeano”  este poema de José Lopes pelo qual nos explica a origem da palavra morna e o seu significado:

A Morna
Não procureis no ar desta palavra a origem,
Não é brando calor: é só dolência e pranto!
Traduz a languidez da nossa raça, o encanto
Dêsse vago sonhar que também dá vertigem.

“A cantinela, a dança e o rítmo seus corrigem,
Quaisquer erros por sí, pois dizem “dor”: porquanto
Do “mourn”ingles vem morna, e é lamenter; e tanto
Que é o coração chorando… E que outra prova exigem? “

“Mourner”  é quem a canta, e “mourner”é quem a dança.
Ela pode causar a síncope que cansa
E ela pode causar a síncope que mata…

Ela é o Pranto Antigo, a dor da nossa raça…
Ela é a alma de Eugénio, é a minha, onde perpassa
A unção da morbidez que em nós se fez inata…”
                                                                           José Lopes
A palavra é de origem inglesa, segundo José Lopes e ela é dolência e pranto, a dor da nossa raça, a unção da morbidez que em nós se fez inata.
Há quem acredita também que a morna teve a sua origem no fado. Tudo começou quando um  português exilado para Cabo Verde compôs umas canções nostágicas semelhantes ao fado e com o andar dos tempos estas canções foram sendo cantadas em rítmos mais vagarosos até que, pouco a pouco, foram assimiladas e aceites pela população que depois começou a cantá-las e a dançá-las.  E assim teria aparecido o que hoje chamamos “morna”.  Esta teoria, ao meu ver, não faz muito sentido, visto, segundo a teoria de Eugénio Tavares, falando nas mornas da Brava diz  que “Brada Maria” a mais antiga morna da Brava, já se cantava há mais de cem anos, portanto no primeiro quartel do século XIX, e o fado segundo  os historiadores chegou a Portugal pelos anos de 1822, com o regresso da corte portuguesa do Brasil. Por isso não vejo que o fado pudesse ter tido alguma influência directa na origem da morna. Além disso existem tantas diferenças estre estas duas expressões musicais que me levam a admitir que essa relação nunca existiu.
Há ainda outras teorias que defendem a origem da morna dos “Blues” do Mississipi, do “Samba”, ou mesmo das cantigas árabes do Norte da África.
Concluindo eu acredito que outras culturas, outros povos e outras músicas podiam, indirectamente, ter contribuido para o aparecimento da morna, como canção. Porém a minha opinião é que a morna apareceu e se desenvolveu quando o nosso povo, reunidas todas as condições socioeconómicas, climatéricas, geográficas, culturais, amadoreceu e começou a exprimir  em cânticos o que lhe ia na alma e no coração. Esse povo sofredor, ilhéu, solitário,  isolado devido ao seu posicionamento, passando por imensas dificuldades que a vida lhe impunha e que o obrigava a imigrar, esse clima quente  que faz com que as pessoas muitas vezes diminuem o seu ritmo de vida, a atitude de conformismo adoptada perante a vida, e a priorização  dos valores humanos e materiais, tudo isso devia ter influenciado no aparecimento e desenvolvimento da expressão literária e musical que chamamos “morna”.
Para terminar faço minhas as palavras de Manuel Ferreira:
 “A morna é o produto dum povo, de uma terra, de um clima e das condições de vida desse povo”. É através da morna que o caboverdiano mostra de uma maneira sublime e incontestável o valor da sua raça, as altas qualidades da sua personalidade, o estoicismo do seu viver, o lirismo dos seus sentimentos, a audácia do seu querer, a esperança de vencer os obstáculos que a natureza lhe impôs, e o amor que dedica à terra que o viu nascer”.

Texto de: Benvindo Leitão

Fonte: Bravanews



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