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As muitas facetas do músico José Domingos António Lopes - I


É difícil descrever a multifacetada caraterítica de homem e de músico que é o José Domingos António Lopes, mais conhecido por Djou (entre os amigos) ou José di Sivela. 
Com os seus 74 anos vividos, esse bravense de gema é um autêntico livro vivo, basta que dispensemos algum momento com ele para constatarmos que estamos perante um cêrebro de inimagináveis conhecimentos e de uma vida de dulcíssimas, eternas, ricas e encantadoras experiências vividas. 

Depois de vários anos emigrados, hoje o encontramos na sua residência em Chã de Sousa, vivendo e revivendo a nostalgia, as suas alegrias, a sua história, a sua solidão de circunstância, ora dando asas à sua imaginação, compondo poemas, mornas, ora buscando o regozijo nas cordas do seu valioso violino, seu amigo inseparável de todas as horas, mas nunca deixando de receber quem bate à sua porta para uma visita de cortesia, um sarau da tarde ou até para receber seus amigos de fora em seus aposentos.

Apesar de quem conviver com ele ter a clara sensação de estar perante um vulto da música, ele não chegou a gravar nenhuma das suas composições.


José D. Lopes é compositor, instrumentista (toca vários instrumentos musicais, desde acordeão, guitarra, cavaquinho, violino, piano) e é dono de uma potente voz , que, no nosso modesto conhecimento, dá-nos a clarividência de um barítono, meio-baixo e meio-tenor, o que no nosso meio, de forma um pouco disvirtuado de cuidados na análise, qualificam-na de voz para ópera. Se é certo que a sua voz pode ter essas qualidades, o mais provável é olharmos para uma voz que se afirmou extremamente portentosa no nosso folclore, concretamente nas mais belas mornas bravenses.

Registamos alguns trechos das suas composições, muito belas e repletas de elevado sentido de homem de letras e de uma dose sgificativa de sentimento.

Sodade tchoman de longe
Pan ba odja nha mai velhinha
e nun setembro sem chuva
N joelhã n´altar di nha berço
N ca uvi mornas di Eugénio
nem serenatas na lua cheia
N ca odja boninas nem rosas
nem morenas ta niná
na peto di ses cretcheu

Esta morna nos remete para o sentimento de todo o emigrante, cantada em todas as nossas mornas e coladeiras: a saudade. 

A morna "Didiza" é, segundo o compositor, a mais favorita das suas composições.
Quisemos levar ao vosso conhecimento parte do trecho: 

Didiza,
cantan quel morna di Eugénio
Qui ta lembran quel Djabraba quim concheba na infância. 

Sodade di un tardinha na cutelo
Criolas di belezas raras e puras

Ai serenata 
na noites frias di setembro
na voz emocionado
José Domingos Lopes no seu iate "Nossa Senhora di Monte"
construído nos EUA há mais de 30 anos, afundado pelo próprio
em Novembro de 2008, no largo do "garrafão" em Fajãdágua,
ilha Brava. 
di um criolo apaixonado

Ai dispidida
sen beijos e sen abraço
di quem qui ama tanto
qui jurâ ser nha cretcheu

Quisera, também, compartilhar um pouco da sua vida de marinheiro, cortando ondas, atafulhado nos gostos e cheiros à maresia:

Es vida di marinhero
É un canção sen rima
Brisa qu´é nos melodia
Strela na céu qu´é nos guia


Estas constituem apenas um pouquinho da infinita dimensão da sua obra, do seu requinte artístico e do seu inefável dom litero-musical. 

SS



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