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Opinião

Excerto das reflexões de Turíbio Pinheiro



Turíbio Pinheiro é um dos muitos emigrantes bravenses nos Estados Unidos que viu na emigração uma saída para melhores condições de vida, mas, como tantos outros emigrados, lembra das suas raízes, do tempo que, ainda criança, percorria as redondezas a cantar boas festas, precisamente neste período de Natal e Ano Novo. 

Para além dessas interessantes reflexões, o seu pensamento culmina com um poema "Nu ben di Londgi"

Eis as suas reflexôes, extraido de "Bravanews":


Huji é béspra di Natal. Dia di “cantâ Rés”. 

Tcheu di nós quagi qui djâ squicé quesi cantiga qui, na Noti di Natal – di Ano Nobo co Rés, també – nós tudo criançada, no ta andabâ pa ruinhas di bizinhança, di porta em porta, ta cantâ, ta diseja boas festa pa tudo dgenti más grandi, pricipalmenti, quesi qui djâ bidjinhos, quasi ca ta podeba saí di casa.

Undé qui no baba,- qui era casa pa casa,- tudo ta daba nós calquer cusa. Um tistóm, dos tistóm, padaz di quéqui, padaz di gofongo.

Si, antam era casa di mericano, cusa gó ta midjoraba um bocadinho. Djâ ta caiba um cruzado, cinco tistóm e as bez té destóm.

Um cruzado! nhos ta lembrâ? era quato tistóm.

(Nhos ta lembrâ di Toi Munzinho, spordói? El ta fraba cumâ sé nomi era Toi Cruzado, pamó era fidjo di Mané Tistóm. Toi Munzinho; Tocador di sé gaita! Mordedor di sé grogo, també! Deus salbal sé alma.).
Má no continuâ co nós Rés.

Dipós, té qui dja no andâ tudo casa no ta bemba gó reparti rantcho.

Por isso qui tinha quel qui ta ficaba co conta di gardâ tudo qui dgenti ta daba nós: Era Jorzi – Jorzi di Bom Concência. 

Jorzi era sempre quel di nós,más grandi, mas sperto, más balenti, pa vitâ qui miniso di oto grupo tomaba nós, nós cusa. 

Má Jorzi gó, també, temba, sempri, sé Bom Concência...

Ta frado cumâ es Jorzi, sé nomi ta bemba di S. Jorgi qui era brigador, balenti, e justo. Jorzi go!.... 

Calquer qui é lugar di úndi el bem, es nós Jorzi, el, el temba sempri Bom Concência... má nós no ta ficaba contenti co quel qui el daba nós...

E agó es cantiga!, No lembrâ dés cantiga “Am bem di londgi”, qui nha primo Juam Martins – Juam di ti Tui – co sé bom mimória, fram el “di cor”, intirinho, cumâ am sa ta dichal ligó, pa nhosi lembrâ nós tempo di minino na Djabraba.

Bom Natal e boas festa pa tudo nhosi co nhos dgenti di casa..


Lisboa, Natal di 2013
Nhomito di nha Mari Sunçam 


Cantigas di Rés:

No bem di londgi


No bem di londgi 
na paz di Deus
no bem contenti 
cantâ nha dgentis
nhos abrí porta
nhos bem ubino
- sé ca fadiga,- 
es nós cantiga.


No ca bem pidi
nada no ca cré 
mas disfeita agora
no ca ta fazé


Anjo bendito
di amor e paz
abri sé asa 
riba dés casa
pa li di dento
ca falta nunca
noti amá dia
paz e alegria


Nhor Des dâ nhosi
li nés morada
ano bondoso
cheio di gozo
birando ano 
pa no tornâ bém
cantâ bom povo. 
Té oto ano nobo.


Boas festa e bons ano 
Deus tchigano 
outro ano 
Cuma dia di hoji
co paz co socego
co alegria dento des casa 
di homi honrado
mudjer honrada


si nhos tem di dano
nhos dano 
pamó no sta bai.


Eugénio Tavares


Nota: Nhó Eugénio dedicou esta cantiga a gente de Santana, conforme categorizada informação do meu primo,amigo e grande Eugenista, João da Silva Martins – Djon di Pá Tui, - de quem, com muita saudade, me lembro sempre, e com redobrada intensidade, neste período festivo do Natal. Vai daqui um forte abraço para este bom amigo.


PS: Nhos pó ligó, tudo quel qui nhos ta lembrâ di cantiga di Rés.
Nhos tirâ ó nhos crecentâ algum cusa más qui nhos sa ta lembrâ dés cantiga.


Am ta lembrâ també di “Nhó Sam José”, qui é mesmo gó cantiga di Natal, má djam squicé maior parte del. 

Nhos sa ta lembrâ del?.Nhos pol ligó...


Um abraço pa nhos tudo e Más um bez Bom Natal e um Ano Nobo Filiz..
 

Nhomito (Turibio Pinheiro)



O processo de produção do meu trabalho discográfico

  1. Contextualização

            A produção do disco que me propus ultimar para o verão de 2014 abrange várias composições, desde mornas, coladeiras, o chamado cola-zouk, mazurka e valsa. Esta última baseia-se no infortúnio que se abateu à história da emigração para os Estados Unidos da América, num fatídico dia do ano de 1942 com a embarcação "Matilde".  Foi num "ambiente de azáfama geral, num misto de alegria e tristeza que perpassam pela ilha toda"... que o jovem Silvestre Faria - o Chibete - consciente de que um dia também, teria ele próprio de partir, querendo ficar, como todos - nesse dilema ingente - interiorizando todo o passado de um povo bravo e marinheiro, num momento de lúcida premonição poética, escreve de uma penada o poema Matilde."  Fonte: www.bravanews.com (http://www.bravanews.com/noticias/print/matilde---um-poema-de-silvestre-faria).
     
            Abri um pequeno parentesis para transcrever em traços breves aquilo que se espelhou nesse poema a história de Matilde e o triste desfecho, decorria o ano de 1942, ano de fome na Djabraba; e a partida era quase que um destino forçado. 



            Além desta, outras composições enformam o trabalho, como já referi no primeiro parágrafo.

            Mazurca é um estilo muito desenvolvido, pelo menos, nas ilhas da Brava e Santo Antão; no Fogo, já aparece um estilo próximo de Mazurca que é o Contradança. E pela sua beleza e apreço, este gênero dá corpo ao cd.
            Digamos que o projeto busca no passado o reviver do presente na certeza de trazer a nossa história espelhada nas melodias diversas. Tudo isso, juntando diferentes estilos num trabalho só, procurará trazer, através deste modesto contributo, a nossa música, os nossos valorosos compositores, desde Eugénio Tavares (duas mornas), João de Lichinho e Djidjinho (uma morna com arranjos estilo jazz), Armando de Pina e Ilene Fernandes, com as letras de uma morna, cuja música é da minha autoria, José Domingos Lopes (uma morna), Ney Miranda (uma samba). As duas coladeiras e mazurca são da minha autoria, sendo esta uma referência ao amor e ao objeto da paixão crioula. 


         2.  Como surgiu a ideia de um cd?

             
            Numa visita que fiz aos Estados Unidos no final de Julho de 2012, em férias, fui com a ideia de procurar algures um fio da meada que me levasse a esse acalentado sonho. Antes já tinha algumas compisições e faltava dar corpo à ideia e procurar recursos. Afinal confecionar um cd não é com poucos recursos. 
              Mas, o primeiro passo a dar é dar-me a conhecer nalguns eventos musicais e, a partir daí, poderão surgir oportunidades. 
             
            Fui convidado pela organização da Gala da Bravanews, de 2012, para participar com duas músicas. Não faria parte do elenco de artistas, mas seria um factor surpresa. E depois de ter atuado nesse evento que aconteceu em East Providence, em Agosto do referido ano.
            A partir daí alguns convites para atuar com alguns artistas foram surgindo e um grande evento musical viria a acontecer no hall do Bisca Club em New Bedford, no dia 17 de Novembro de 2012 com um elenco vasco de artistas, como José Fernandes, Gardenia Benrós, Djuta Barros, Helder Duarte, Lutchinha, Nanda Santos, Benvindo Cruz, Valdir Alves, os garotos Nuggie e Craig, acompanhados de John Miranda´s Band. Foi realmente um primeiro teste de fogo como se relatou na Bravanews nessa altura
                O dinheiro arrecadado seria para iniciar o projeto de gravação do meu primeiro trabalho.
         Iniciei a gravação no Studio de Ney Miranda, mas devido a dificuldades nos compromissos assumidos, neste momento o trabalho está sendo desenvolvido pelo arranjador e músico Djim Job. 
              Durante a estada nos EUA, fui realizando, quando possível, alguns eventos mais. Ao mesmo tempo fui tendo sessões de gravação periódicas no Studio e preparando com a grande colaboracção e cantora Djuta Barros. 
             Como todos os sonhos, há sempre pelo caminho dificuldades. Mas elas foram sendo ultrapassadas, graças a fidelidade do meu público que fui conquistando ao longo desse tempo, pelo menos, pela cidade de New Bedford, Pawtucket e um pouco por Boston e fidelidade dos meus colaboradores que se entregaram de corpo e alma à causa. Se houve grandes amigos e companheiros, houve também pessoas que tentaram atrapalhar, procurando minimizar ou enfraquecer um certo alarde que havia à volta da minha aparição pública. Os órgãos de comunicação, como o Cabo Video, Rádio Nha Terra faziam eco às minhas atividades musicais. 
             Voltei para Cabo Verde no dia 29 de Junho de 2013 para continuar o meu trabalho de coordenador pedagógico, na Delegação da Brava do Ministério da Educação e Desportos, encontrando-me neste momento a desempenhar a referida função. 
                   Enquanto isso, as minhas atividades musicais prosseguem um pouco pela Brava, juntando-me às bandas existentes, como Nos Manera, Irmãos Unidos de Baleia, nas tocatinas em vários restaurantes locais e eventos em ocasiões especiais, como a comemoração do Dia da Cultura, ocorrida a 18 de Outubro. 
                   As atividades não param e há uma projeção das atividades do Ministério da Cultura em relação à Brava, a apartir da eleição da ilha como a Capital da Cultura. 
                
                    Posto isso, este compasso de espera relativamente ao ultimar do meu projeto discográfico será também aproveitado para se conseguir algum mais financiamento ou através de meios próprios e por intermédio de pessoas amigas e desejosas de me apoiar nesse árduo, porém compensador percurso, patrocinando com o que estiver ao seu alcance. 


             3. Formas de patrocínio e benefícios


Categoria
Nível em Dólares Americanos
Benefícios
1
US1000 para cima
·         O logotipo da companhia patrocinadora na capa do cd;
·         Logotipo e Nome da companhia patrocinadora no palco durante o show de lançamento do cd
Convites personalizados
Para participação no evento de lançamento do cd
2
US500 até 999
·         Logotipo e Nome da companhia patrocinadora nos cartazes e folhetos de publicidade do show de lançamento do cd.
3
Até US 499
·         Anúncio

           
         Até agora, contamos como patrocinadores Performers Act 2, Camilo Jewelry e uma promessa de patrocínio por um comerciante da Brava. 
Performers Act 2            Vamos continuar mobilizando parcerias para reunir todas as condições de pôr o trabalho pronto num curto espaço de tempo. 

Contamos com a vossa parceria!!!!

Muito obrigado!
SS




Fórum para o Desenvolvimento da Ilha Brava: que expetativas?


Aguardamos com uma certa ansiedade e expetativa o fórum de 5 e 6 de Dezembro relativo ao desenvolvimento da nossa querida Ilha das Flores. Falamos de "desenvolvimento" e não basicamente "crescimento"; desenvolvimento no seu sentido lato. A começar pelo desenvolvimento humano, económico, sócioeducativo, cultural, etecetra, etecetra... 

Fazendo uma retrospetiva no tempo, houve alturas em que a Ilha possúia escolas naúticas que davam formação de pilotagem, haviam indústrias; houve tempos em que se ministravam aulas de música. Hoje a ilha reclama por esses bons tempos e empodeiramento de novas ideias de desenvolvimento adaptados aos novos tempos, à nova era.

A infraestruturação da ilha a passo de tartaruga, a forte emigração ao longo dos tempos, a falta de ideias político-económicas, a precariedade da saúde, índice de pobreza aliado ao desemprego, falta de políticas para a juventude, entre outros, têm contribuído para uma ideia de futuro incerto para a ilha. 

Que políticas de desenvolvimento se requer para uma ilha, ainda até bem pouco tempo na rota do isolamento, não só pela sua localização geográfica em relação as restantes ilhas do Arquipélago, mas, sobretudo, pela precariedade de comunicação e transporte de e para a ilha. Hoje graças à entrada da Cabo Verde Fast Ferry, a ilha tem saído muito do isolamento que estava condenada, mas que ainda não satisfaz em pleno aos reais anseios e preocupações da população. 

Que políticas de desenvolviemnto para uma ilha que ainda, apesar de forte potencial turístico, não soube explorar a sua potencialidade nesse ramo de desenvolvimento com ofertas históricas, culturais, artesanais, etc.

Que políticas de desenvolvimento para uma ilha com forte potencial cultural mas que lhe faltam mecanismos de preservação da sua cultura através de ações de formação cultural, atividades direcionadas ao fomento de valores artíticos, entre outros.

Que políticas de desenvolvimento para uma ilha que reclama que seus habitantes tenham iguais oportunidades de formação, sobretudo para a população ativa que continuar os estudos implicaria se deslocar com fortes consequências familiares, de emprego e pessoais, o que poderá ser minorada com uma política de fazer chegar à ilha, por exemplo, as universidades através de possíveis criações de pólos universitários. A ilha não quer que só lhe venham delegações ou pólos, como no caso particular, pólos universitários quando outras ilhas já os têm. Que também alguma coisa lhe chegue primeiro ou que entre num plano de prioridades de estratégia de desenvolvimento nacional. Assim a ilha terá também algo com que se orgulhar das políticas adotadas de desenvolvimento nacional e devolveria às populações a esperança de vida melhor e um acreditar no futuro da terra de Nho Tatai. 

Que políticas de desenvolvimento para uma ilha que lhe faltam, no setor de saúde, apesar de bons profissionais, recursos de atendimento a possíveis acidentes vaculares, doenças comuns dos nossos tempos, raio-x para casos de deteção de fraturas e roturas ósseas; um serviço pediátrico adequado, um atendimento especial à população idosa, etc Quando em muitos casos exigem-se evacuações com elevadas implicações ao paciente e à própria economia. Outros, por falta de medidas profiláticas acabam sendo detetadas doenças em fase terminal...

Urge refletir e muito no futuro em que a ilha vai ser administrada pela geração mais nova num contexto do novo milénio, inserido na grande aldeia global de fortes incertezas e expetativas.

Que deste fórum se tirem grandes ilações!!!



Qual a última palavra em relação à nossa música!!

Inicia-se, lá para o final deste mês e início do Mês de Dezembro, aulas de violão para jovens e adultos, sob o lema: "aprenda violão em 30 dias", cujo objetivo essencial é dinamizar a aprendizagem dos instrumentos musicais na ilha para o fomento de novos valores artísticos." 

De frisar que a Brava tem perdido boa parte dos seus músicos desde o tempo em que a ilha era agraciada de forte ímpeto musical, de artístas com grande potencial quer na confeção dos instrumentos quer na sua execução. Havia artistas que fabricavam instrumentos de corda e os executavam com muito esmero. Outros tantos que eram exímios compositores. A combinação desses elementos no plano musical deu a ilha um legado histórico-cultural insubestimável aliado à poesia, ao artesanato, etc.

Devido a forte emigração, sobretudo para os Estados Unidos da América aliado ao crescente interesse de gerações mais novas às influéncias de estilos musicais externas.

Há que haver mecanismos que promovam a educação de gerações voltada `a sua cultura face às influências externas. Isto passa-se, a meu ver, por um trabalho de fundo e não de ânimo leve pelo agregar de forças das instituições vocacionadas, dos empresários, das famílias e de toda a sociedade civil.

A ideia de uma escola de música, já sobejamente falada neste blog, surge da necessidade urgente de formar as gerações quanto à valorização da arte musical, partindo da sua música, dos seus valores culturais aliados à arte de execução instrumental que, infelizmente, está se perdendo pouco a pouco.






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