Era o meu primeiro ano de trabalho como professor e, como é natural, várias ideias se afloravam para fazer dos meus alunos excelentes estudantes em várias áreas do conhecimento escolar mas, também, do conhecimento da vida e de tudo o que nos rodeia.
Gostáva de desenvolver minhas aulas muito centradas nos alunos. Eu escolhia as possíveis perguntas, fazia-as constar do meu plano de aulas, mas havia sempre possibilidades de as refazer consoante as circunstâncias que os meus desafiantes alunos proporcionavam.
Era uma aula de Ciências Integradas. As aulas de Ciências Integradas incluíam matérias com um pouco sobre História, Ciências Naturais, Geografia, áreas relacionadas à vida, ao ambiente, aos seres vivos, enfim. E nessa aula, numa turma do 5º ano, falávamos dos setores de atividades e, obviamente, aos alunos competiam indicar diferentes profissões, relancionado-as aos diferentes setores, sejam eles, setor primário (sector de produção), sector secundário (sector de transformação, isto é, de indústrias) e sector terciário (sector do comércio e serviços).
O momento da avaliação, através de perguntas e respostas orais, nesse caso, era muito aguardado, onde os alunos, pelo nível de motivação que tinham, podiam, numa espécie de competição, demonstrar conhecimento, o que lhes valia uma avaliação positiva na caderneta.
Perguntei ao aluno António: «Indica duas profissões ligadas ao sector primário?»
- Agricultor e Pescador - respondeu ele.
Elogiei-o com um «muito bem!» e prossegui. Dirigi-me a aluna Raquel e perguntei: «Professor é de que sector de actividades?»
A aluna pensou um pouco e, sem pestanejar, respondeu que é do sector secundário.
«Sector secundário? Mas, porquê?» pedi que a aluna explicasse, ante à minha estupefação.
A aluna Raquel pensou um instante e disse: «Professor é do sector secundário e, portanto, sector de transformação (Ou seja, sector que transforma matérias-primas em outros produtos).»
«Sim, mas o que é que o professor transforma? O professor presta serviços e, portanto, deve fazer parte do sector de serviços, isto é, sector terciário, como o médico, os funcionários públicos, no geral», fui dando pistas, ajudando a aluna nas suas reflexões.
Raquel justificou que "Professor" é do sector secundário porque transforma... alunos "burros" em espertos.
A turma não se conteve em risos. Tomou-se de gargalhada.
Confesso que senti vontade de rir, mas contive e pedi que a turma não concentrasse no produto final da resposta, mas entendesse a análise que a colega fez, não deixando de lado que, de certa forma, estava envolta de humor à mistura, podendo até vir a constar de uma criação textual para o Jornal de Parede.
Autor: Samuel Santiago
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